(Louise Glück, 1943- , Nova York, EUA)
A Real Academia Sueca atribuiu o Prémio Nobel da Literatura de 2020 a Louise Glück, poetisa norte-americana. Nasceu em 1943 em NovaYork e exerce, atualmente, a docência na Universidade de Yale, New Haven, Connecticut, onde é professora de Inglês.
A sua primeira obra, Firstborn,
foi publicada no ano de 1968, sendo a
autora logo reconhecida no meio literário dos E.U.A. como uma das poetisas mais
importantes da literatura contemporânea americana. No seu país, já foi
galardoada com vários prémios entre os quais o Prémio Pulitzer (1993) e o Prémio
Nacional do Livro (2014).
Até ao momento, Louise Glück publicou
doze coleções de poesia e alguns volumes de ensaios sobre poesia. A página Web
da Svenska Akademien descreve-a assim :[i] “Todos são caracterizados
por uma busca pela clareza. A infância e a vida familiar, o relacionamento
próximo com pais e irmãos, é uma temática que permaneceu central para ela “[1].
Segundo a mesma fonte, esta autora é
perspetivada como uma alguém que “ não está apenas envolvida com as errâncias e
mudanças nas condições de vida, ela também é uma poetisa da mudança radical e
do renascimento, onde o salto em frente é dado a partir de um profundo
sentimento de perda”.
Deixamos aos
nossos seguidores um poema da terceira parte do
poema “Landscape”,
traduzido por Rui Pires Cabral. Estes versos foram
publicados no n.º 12 da Revista Telhados de Vidro, da editora Averno, em maio de 2009.
Paisagem/3
Nos fins do
outono uma rapariga deitou fogo
a um trigal. O outono
fora muito
seco; o campo
ardeu como palha.
Depois não
sobrou nada.
Se o atravessávamos, não víamos nada.
Nada havia
para colher, para cheirar.
Os cavalos não compreendem –
Onde está o
campo, parecem dizer.
Como tu ou eu a perguntar
onde está a nossa casa.
Ninguém sabe
responder-lhes.
Não sobra nada;
resta-nos esperar, a bem do lavrador,
que o seguro pague.
É como perder
um ano de vida.
Em que perderias um ano da tua vida?
Mais tarde
regressas ao velho lugar –
só restam cinzas: negrume e vazio.
Pensas: como
pude viver aqui?
Mas na altura
era diferente,
mesmo no último verão. A terra agia
como se nada de mal pudesse acontecer-lhe.
Um único
fósforo foi quanto bastou.
Mas no momento certo – teve de ser no momento certo.
O campo
crestado, seco –
a morte já a postos
por assim dizer.
Louise Glück (2006)
[1] Retrieved from https://www.nobelprize.org/prizes/literature/2020/gluck/interview/ [acedido em 12/10/2020].