Avançar para o conteúdo principal

Poesia de Eugénio de Andrade

 

Eugénio de Andrade, por Emerenciano (1988)


O Sorriso

Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.

in “O outro nome da Terra". Porto: Limiar (1989)




O Sal da Língua

Escuta, escuta: tenho ainda

uma coisa a dizer.

Não é importante, eu sei, não vai

salvar o mundo, não mudará

a vida de ninguém — mas quem

é hoje capaz de salvar o mundo

ou apenas mudar o sentido

da vida de alguém?

Escuta-me, não te demoro.

É coisa pouca, como a chuvinha

que vem vindo devagar.

São três, quatro palavras, pouco

mais. Palavras que te quero confiar.

Para que não se extinga o seu lume,

o seu lume breve.

Palavras que muito amei,

que talvez ame ainda.

Elas são a casa, o sal da língua.

 

in "Poesia". Porto: Fundação Eugénio de Andrade (2000)



 As Palavras Interditas

  

Os navios existem, e existe o teu rosto
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino flutuam nas cidades,
partem no vento, regressam nos rios.

 

Na areia branca, onde o tempo começa,
uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida, anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar.

 

Os hospitais cobrem-se de cinza.
Ondas de sombra quebram nas esquinas.
Amo-te... E entram pela janela
as primeiras luzes das colinas.

 

As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.

 

Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.

 

E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.


in "As Palavras Interditas". Assírio & Alvim (1951)



"Um Poema por Semana" - RTP 2011

Eugénio de Andrade na voz de Margarida Carvalho

Mensagens Populares

António Mota lê “Baloiço cá, baloiço lá”

António Mota, autor de literatura para crianças e jovens, partilhou connosco a leitura do seu poema “Baloiço cá, baloiço lá”, inserido na coletânea “Lá de Cima, Cá de Baixo”, onde podemos encontrar a vida de todos os dias. Uma formiga que vai calada e ligeirinha. Um baloiço que serve de mirante. As noites solitárias. Os bichos. Os sonhos. “Baloiço cá, baloiço lá” Baloiço cá, Baloiço lá Eu já vi O que ali está Escondido na folhagem Vi um castelo encantado É todo feito de vidro, mas já não tem telhado Baloiço cá, Baloiço lá Eu já vi O que ali está À porta desse castelo Está uma fada contente. Porque hoje de manhã Nasceu-lhe o primeiro dente Baloiço cá, Baloiço lá Eu já vi O que ali está Experimentem ouvir e ler, como se estivessem sentados(as) num baloiço...

"Sexta-feira ou a Vida Selvagem", de Michel Tournier | online

Conhece a obra de Michel Tournier sobre a história de um náufrago? Editada em 1971, esta é uma narrativa que surge da adaptação para os mais jovens do livro "Sexta-feira ou os limbos do pacífico" (Vendredi ou les Limbes du Pacifique), do mesmo autor. Relata a história  de Robinson, um homem que, em meados do século XVIII, dirigindo-se ao continente americano para efetuar  trocas comercias entre o seu país e o Chile , sofreu um terrível naufrágio, ficando a viver numa ilha desabitada. Já no século XVIII se havia escrito sobre a história de Robinson Crusoe, num romance da autoria de Daniel Defoe, publicado em 1719, no Reino Unido. Na verdade,  foi originalmente expedido em forma de folhetim, por episódios, no jornal The Daily Post . "Robinson não poderá nunca voltar ao mundo que deixou. Então, palmo a palmo, edifica o seu pequeno reino. Tem uma casa, fortalezas para se defender e um criado, Sexta-Feira, que lhe é dedicado de alma e coração. Tem mesmo um cão, que envelhece ...

Ciberescola da Língua Portuguesa - Leitura, Compreensão oral, Gramática, Escrita e Vocabulário.

A  Ciberescola da Língua Portuguesa   é uma plataforma de recursos interativos e cursos   online   de ensino do português e constitui um projeto único no universo de oferta editorial e institucional via   Web .  Os utilizadores (alunos e professores) podem aceder à plataforma gratuitamente, mediante um registo simples.  Em Português Língua Materna são visados sete níveis de escolaridade, do 5.º ao 12.º anos. Em Português Língua Não Materna estão contemplados os níveis A2 e B1. Numa e noutra vertente do ensino do português, as áreas tratadas são a Leitura, a Compreensão oral, a Gramática, a Escrita e o Vocabulário. Todos os exercícios são originais, produzidos especificamente por professores pós-graduados e investigadores em linguística.  Os professores poderão enviar aos seus alunos aulas de PLNM em suporte  pdf,   disponíveis em  http://www.cibercursoslp.com/ - Tutorial para registo no sítio online da Ciberescola e acesso aos exer...