A 13 de junho celebra-se o nascimento de Fernando Pessoa, o enigmático poeta português que não encontra paralelo na produção literária do Modernismo português. Para reconstituir o seu percurso biográfico, recorramos aos versos de Alberto Caeiro:
"Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas—a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra coisa todos os dias são meus."
Opostamente a esta aparente simplicidade, sabemos que dentro de si estava um mundo de teias de pensamento que produziu uma notável obra bem distante da linearidade e que nos oferece, nos traços do fingimento, muitos lados de um mesmo poliedro.
No seu filme “Como Fernando Pessoa Salvou Portugal”
(2018), Eugène Green relembra o slogan que, em 1928, Pessoa escreveu, pela mão
de Álvaro de Campos, para o lançamento da Coca-Cola em Portugal:
“Primeiro, estranha-se. Depois, entranha-se”.
Recuando aos anos 20, mais especificamente ao ano de
1927, vemos o Poeta sentado numa mesa de madeira, quando o patrão lhe pede que crie um slogan publicitário para a bebida
Coca-Louca, a famosa bebida dos Estados Unidos, que é apresentada como uma
alternativa ao pecado do álcool, uma vez que podia produzir os mesmos efeitos,
mas sem pecado. Neste excerto do filme, discute-se a importância
da publicidade e a sua associação à poesia, que Pessoa descreve como não
podendo ser um "casamento católico". Esta bebida viria a ser interdita pelas
autoridades do regime, por, alegadamente, se tratar de um produto suscetível de
criar habituação.
Lembramos que este grande nome da nossa literatura
foi pouco reconhecido no seu tempo, com exceção dos olhares de uma elite intelectual que o
lia em revistas literárias. Viveu uma vida discreta, numa secretária, onde era
funcionário por sobrevivência. Porém a escrita libertava a sua criatividade e era
o escape para múltiplas conjeturas de fantasia e reflexão profunda. Nascido em
Lisboa, em junho de 1888, viria a morrer em novembro de 1935, na sequência de uma cirrose hepática. Boémio declarado, era visita frequente dos cafés e das
tascas da cidade. Certo dia, foi fotografado a beber um copo de vinho na Baixa de Lisboa, foto que enviou à sua amada Ofélia com
a dedicatória: ‘em flagrante delitro’.
Assista ao vídeo humorístico de Ricardo Araújo
Pereira que tenta justificar como Pessoa, por trás da sua neurose fragmentária,
teria uma disposição irónica e um gosto pelo absurdo que lhe confere um humor
peculiar.