Após o fim do império dos séculos XV e XVI, que produziu a grande partida da História de Portugal, o país continuou a ser marcado pela diáspora. Os portugueses não
mais deixaram de estar espalhados por todo o mundo, levando um pouco da sua cultura
e aprendendo outras. Afirmaram-se, assim, naturalmente polinizadores e recetáculos, abertos
à condição da descoberta e da mudança.
As grandes vagas verificaram-se nas décadas de 20, 60 e 70 do século XX. Nos anos 20, o cenário do pós-guerra levou muitos a emigrar, pela extrema pobreza que grassava no nosso país, principalmente nas classes sociais mais desprotegidas. Contudo, os anos mais difíceis foram os da guerra colonial (após 1961), que mergulhou o país num caudal de sofrimento, levando muitos a iniciar uma dramática fuga para vários países da Europa, o Brasil, os EUA, a Argentina, a Venezuela e outros. Este movimento ficou conhecido como “o salto”.
Mais recentemente, desde 2008 até à presente data, assistimos à saída de jovens que vão em busca de outras oportunidades, nomeadamente os jovens licenciados que deixam, inevitavelmente, o país mais empobrecido. Em boa verdade, hoje temos a mais alta taxa de emigrantes licenciados, o que não é de todo edificante. Em 2015, existiam 5 milhões de portugueses a viver fora do seu país, número que não inclui os descendentes de emigrantes que optaram pela nacionalidade dos países de acolhimento dos seus progenitores.
Com efeito, Portugal deve à coragem e ousadia do seu povo a
riqueza da difusão do seu património e a afirmação dos seus valores culturais
pelo mundo. Distingue-nos a característica de nação acolhedora e pacífica e
também o epíteto de valentia que o hino luso desataca. Porém, essa singularidade
tem o reverso das condições precárias no espaço físico português, a desertificação do interior, a redução demográfica, o desequilíbrio etário e, acima de tudo, o sofrimento
provocado em sucessivas gerações, que são forçadas ao êxodo.
Nesta publicação, dedicada ao Dia que se celebram as
Comunidades Portuguesas, gostaríamos de lembrar a instalação dos emigrantes portugueses nos Bidonsvilles, em redor de Paris, em meados do século passado. Estima-se que, nos
finais de década de 60, mais de 350.000 portugueses tenham vivido nestes guetos de miséria, em bairros de lata, sem condições sanitárias, para conseguirem trabalhar fora do seu país.
Convém recordar o passado para compreender os fenómenos do presente. Ontem uns, hoje outros, em condições de grande precariedade, procurando dias melhores na Europa.