“A palavra é mais vasta do que a literatura”
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Maria Velho da Costa morreu, no passado dia 23 de maio, em Lisboa, aos 81 anos. Nesta semana em que procuramos celebrar vários autores, nomeadamente os portugueses, não poderíamos deixar de prestar-lhe homenagem.
Licenciada em Filologia Germânica pela Universidade de Lisboa, a que associou o curso de Grupo-Análise da Sociedade Portuguesa de Neurologia e Psiquiatria, esta autora, ficcionista, ensaísta e dramaturga marcou o panorama nacional com o seu estilo único pela defesa das ideias, sempre atenta aos vícios sociais e com grande consciência ideológica e crítica. Pela sua mão, o romance adquiriu uma linguagem ousada, de alusões, imitações, homenagens, coloquialismos e arcaísmos, numa execução artística admirável. Para os textos trouxe valores e lutas humanas sérias e graves: a censura, a repressão, a condição feminina, a liberdade (ou a sua ausência).
Foi coautora, com Maria Isabel Barreno e Maria Teresa Horta, de “Novas Cartas Portuguesas” (1972), um livro que se tornou um marco no nosso país pela abordagem da situação das mulheres nas sociedades contemporâneas e que viria a ser apreendido pela polícia política do antigo regime pelo seu «conteúdo insanavelmente pornográfico e atentatório da moral pública».
Entre outras obras, escreveu “O Lugar Comum” (1966), “Maina Mendes” (1969) e “Casas Pardas” (1977), Prémio Cidade de Lisboa e reeditado em 2013 pela Assírio e Alvim, um ano depois de “O Amante do Crato” e um ano antes de “Da Rosa Fixa”, pela mesma chancela e ambos igualmente em reedição. São também seus “Lucialima” (1983), Prémio D. Dinis da Fundação da Casa de Mateus, “Missa in Albis” (1988), Prémio de Ficção do PEN Clube, e "Dores" (1994), um volume de contos em colaboração com Teresa Dias Coelho, ao qual foi atribuído o Prémio da Crítica da Associação Internacional dos Críticos Literários e o Prémio de conto Camilo Castelo Branco.
Em 1997, foi-lhe atribuído o Prémio Vergílio Ferreira da Universidade de Évora, pelo conjunto da sua obra, que se encontra traduzida em várias línguas. Em 2002 foi distinguida com o Prémio Camões, cujo júri lhe elogiou «a inovação no domínio da construção romanesca, no experimentalismo e na interrogação do poder fundador da fala». O Prémio Vida Literária, da APE, foi-lhe entregue em 2013, dois anos depois de ser feita Grande-Oficial da Ordem da Liberdade. Em 2003 já havia sido feita Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.
Lançou ainda o romance “Myra” (2008), pelo qual recebeu o Prémio Correntes d’Escritas.
Como argumentista, colaborou com os cineastas João César Monteiro (“Que Farei Eu com Esta Espada?”, “Veredas”, “Silvestre”), Margarida Gil (“Paixão”) e Alberto Seixas Santos (“A Rapariga da Mão Morta”, “E o Tempo Passa”).
À mestre do uso da palavra ao serviço da ideia e da convicção profunda, o nosso respeitoso agradecimento!