“As Cartas Portuguesas” é o título de um romance epistolar publicado no século XVII. Essas cartas foram publicadas em francês, no ano de 1669, pelo editor Claude Barbin, estão escritas como cartas de amor de uma freira portuguesa, Sóror Mariana Alcoforado, em clausura num convento da cidade de Beja, dirigidas a um oficial francês.
No século XX, em tempo de solenes costumes, sob o jugo da ditadura, três mulheres portuguesas, de nome Maria, escreveram o livro “Novas Cartas Portuguesas”, que revelou ao mundo a existência de situações discriminatórias graves em Portugal, relacionadas com a repressão, o poder do patriarcado católico e a condição da mulher (casamento, maternidade, sexualidade feminina).
Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, conhecidas internacionalmente como “as três Marias”, em 1972, denunciaram, através da sua escrita, as injustiças da realidade portuguesa: a guerra colonial, a emigração, os refugiados ou exilados no mundo, nomeadamente os “retornados” em Portugal. Banida nos anos 70, a obra foi imediatamente traduzida na Europa e nos Estados Unidos da América, encontrando-se, ainda hoje, entre as obras portuguesas mais traduzidas em todo o mundo.
O livro pode ser considerado um marco crucial na evolução do pensamento feminista na literatura portuguesa. É composto de fragmentos, o que expressa a própria concepção da mulher portuguesa, mas transmitindo uma só mensagem: a mulher também tem voz, e sabe falar. As mulheres começam a falar sobre seu corpo, sobre os prazeres e sofrimentos da sua relação carnal com os homens, e chocam a sociedade portuguesa, por isso as suas autoras são alvo de um processo judicial, suspenso depois da revolução de 25 de Abril de 1974. Conheça mais no site http://www.novascartasnovas.com/.
A escritora Inês Pedrosa partilha a sua preferência e admiração por este livro. Assista ao vídeo incluído na rubrica "Ler mais, Ler melhor".